" Mensagem de Um Pseudo-Poeta Entrelinhas. "
Estou a tentar viver.
Será que estou?
Terei eu de gritar,
Ou, talvez, somente morrer?
Uma única certeza ecoou:
Até onde vou aguentar?
Sempre a suportar e reprimir,
Onde, sem espaço para me exprimir,
Faço o que faço, perdido,
Rendido a este espírito incompreendido.
Então, pergunto: o que será de mim,
Respirando, existindo, sofrendo sem fim?
Saudades abraçam e perturbam-me a alma
Apenas para me sentir ainda mais confuso.
Lavo a mente e o corpo com calma,
Vencidos com cada pancada e abuso.
Em mim vejo impregnado o veneno
Manchando a minha existência num tom ameno.
Medo, incerteza, sangue e amor
Embaraçam o meu futuro com terror.
Por isso, peço a qualquer divindade:
Orem por mim, sem medo e sem pena,
Rasgando brutalmente a minha sanidade plena.
Fecho, finalmente, quem outrora fui,
Abanando e espremendo o passado,
Varrendo de mim a vida que aflui.
Onde não existe amor apressado,
Racha, destrói, finda e obstrui.
Nunca serei capaz de ser
Aquela pessoa feliz e completa
Onde em mim só existe espaço para sofrer.
A viver de forma irracional,
Guerras internas e inseguranças,
Uivando com a decomposição emocional,
E impedindo-me de sentir esperanças.
Não consigo mudar, não consigo evoluir,
Tentando, desesperadamente, atingir
O objetivo de poder voltar a sorrir.
Mas nada disto importa mais.
Agarro, luto, choro e estremeço,
Iluminado pelos obstáculos finais,
Sentindo somente o que realmente mereço.
Um Capítulo Rasgado e Uma Nova Vida
Depressão
Ninguém Quer Ser Um "Guerreiro"!
365 Dias + Um Futuro Contigo
Voltei a este blog para anunciar algo do qual me orgulho e congratulo: um ano inteirinho de namoro com o melhor namorado que alguma vez podia desejar! Se os vossos são melhores, estimem-nos e não larguem mão deles porque estão a segurar a vossa felicidade! Conselho de quem vos quer bem! :)
Para quem me conhece deve saber o quanto eu ADORO matemática!!! Por isso tomei a liberdade de transformar o ano em dias, todos os 365 dias deste foram contados como sendo o dia mais feliz da minha vida! Acreditem, mesmo em dias muito maus, bastava apenas 5 minutos para perceber o quão feliz eu era por ter o meu namorado ao meu lado, às vezes fisicamente e outras vezes simplesmente no meu coração e mente. Ele foi capaz de fazer o impossível, foi capaz de transformar alguém como eu, uma lagarta, numa borboleta crescida, completa e perdida de amores por outra borboleta, lindíssima, com as melhores das cores nas suas asas!
O amor transforma as pessoas, como uma metamorfose. Sempre que disserem (ou quiserem prometer a vocês mesmos) que nunca vão mudar por alguém, não o digam porque mais tarde vão perceber o quão mentira foi essa frase dita por vocês. Amar alguém é mudar sim, mas não é um mudar para pior, não é um mudar para deixarem de ser quem vocês são. Amar alguém é mudar de um “Eu” para um “Nós”, é mudar e adaptarem-se para que a felicidade se instale, para que ambos os membros do relacionamento se encaixem na perfeição como duas peças num puzzle. Um relacionamento não é, nem deve ser, uma relação de “Sims”, palavras bonitas, várias saídas e de fotografias no Instagram. Um relacionamento tem muita trovoada e muitas confusões porque se não o tiver ou o relacionamento é recente ou então há algo errado. Para este ser saudável e duradouro tem de haver de tudo, mesmo dias maus, porque esses vão ser os verdadeiros testes que vão pôr à prova o quão dispostos vocês estão para superar algo tão trivial pela pessoa que vos faz feliz. Não deixem umas meras discussões arruinar algo tão real como o amor, porque mais tarde, se eventualmente tudo terminar, ambos vão-se continuar a amar e não vão suportar a dor de não puderem estar juntos tudo por causa de um mau dia que acabou com toda a vossa esperança no amor.
Eu e o Micka já passamos por imensas coisas neste ano de namoro, coisas que vão de extremamente boas a coisas muito más! Já viajamos a tantos sítios, já nos aventuramos por mais lugares que eu desconhecia e ficamos a conhecer tantas coisas e pessoas novas! Adorei a nossa viagem a Vigo, a Lisboa e a Peniche, adorei acampar contigo (e com o Ivo e o Pedro), adorei as nossas saídas à noite com amigos e bebidas! Simplesmente sair contigo é fantástico, é divertido e és a melhor companhia de todas! Até preparar refeições e sobremesas contigo são momentos divertidos e satisfatórios! Nestes 365 dias de namoro também tive dificuldades a controlar a minha solidão, as minhas saudades, os meus ciúmes e todas as alturas em que sofri por não te ter por perto quando precisava ou mesmo eu estar por perto quando precisavas! Nenhum amor é fácil e as nossas dificuldades foram importantes para fortalecer esta relação especial que temos!
Mas sabem o que é mais importante depois disto tudo? Não desistimos nem temos intenção de tal porque tudo isto faz parte do nosso amor, completa um pacote tão complexo e cheio de possibilidades. Admito que as discussões não são fáceis e por vezes nos magoamos com essas situações mas depois disso só vem mimos e compreensão pelos nossos erros. Nós lutamos muito um pelo outro porque valemos a pena, porque queremos que as coisas resultem e porque nos amamos. Eu falo por mim, mas ele é aquilo que mais me faz bem quando estou triste ou a sentir-me derrotado, graças a ele enfrento de frente muita merda só para poder estar com ele e senti-lo, vê-lo sorrir e ouvi-lo gargalhar. São essas os frutos e recompensas de um relacionamento, são estas as coisas recheadas de calor e ternura que preenchem o meu interior quando algo não está certo e assim tenciono permanecer até o fim, contigo ao meu lado. Fica comigo e prometo fazer-te o homem mais feliz de sempre! Casamos para a semana, sim? Não te esqueças de fazer antes o pedido, com um joelho no chão! Amo-te TANTO, meu amor! <3
P.S.: Não te esqueças de ler o que tem no envelope, aquele que está na nossa caixinha! Entretanto já chego aí a casa para te beijar! :P
~ Nuno Pinto, Quando o Coração Regenera, 02/12/2017 ~
Prenda de Aniversário ao Eevo!
Se me perguntarem, digo que foi ele que me pediu isto como prenda, por isso não me chamem de caloteiro ou pobre! Tenho muito gosto em escrever isto para ele, algo ao qual dediquei tempo, memória (que não é o meu forte) e esforço cerebral! Aproveita a tua prenda, Ivo. :)
Ninguém sabe quando irá aparecer alguém ao qual, no futuro, iremos chamar de melhor amigo. Ninguém sabe sequer ao certo o que é um melhor amigo, nem mesmo eu ou ele. Apenas temos uma visão do que seria um e começamos a usar essa forma de referência. Mais tarde tornou-se sinónimo de uma relação forte entre dois amigos que se ajudam, apoiam e motivam mutuamente. Se é a definição certa? Talvez, mas é mais que isso também.
Acreditem ou não, conheci este gafanhoto numa app, uma daquelas em que as pessoas falam e conhecem-se sem se verem pessoalmente. Eu andava meio perdido no mundo depois do meu ex ter acabado comigo e fui lá parar. Por sorte, o Ivo achou piada e meteu conversa. Sendo sincero, acho que só meteu conversa porque eu dizia que gostava de jogos. Foi exatamente disso que começamos a falar e algo nele me chamava sempre à atenção, ele era modesto e divertido. Um exemplo de um amigo, para ser honesto. Amizade essa que já dura há quase um ano e, embora não seja há muito tempo, têm-se provado ser uma das mais desafiantes e fortes que tenho. Festejemos a isso! <3
Passamos por imensas coisas nestes meses em que somos amigos e digo-vos que nem todas foram boas! Tivemos imensas saídas onde nos divertimos para valer! Chegamos a ir um dia inteiro para o Porto apenas para jogar Pokémon GO (sim, éramos viciados na altura, não nos julguem!). Mas acima de tudo, sempre houve companheirismo em tudo o que fazíamos e ele alinhava em quase tudo, senão tudo (sobretudo porque detesta fazer planos). No meio disto tudo, as nossas personalidades até são semelhantes e isso também gera o seu conflito. Já houve tantas discussões onde ambos queríamos ter razão (já agora, eu tenho sempre razão, sim?) e acabávamos por não nos falar durante X tempo, principalmente porque eu começava a perder a paciência para os dramas que ele fazia. Mesmo assim, é parte de quem ele é e, embora existe muita faísca por causa disso, eu não o tenciono deixar. Não sou assim e ele sabe que, apesar de tudo, eu vou ficar cá. Ainda por cima ele já cresceu e amadureceu tanto desde que o conheço! Ele nem tinha coragem de fazer uma simples lista de coisas que precisa de levar para um fim-de-semana fora e já foi comigo a Peniche e a Viseu! Ele ainda tem as suas pancas, mas fico contente por eu o ter ajudado a mudar!
Eevo, com isto tudo quero-te desejar um excelente aniversário e parabéns pelos teus 24 anos! Espero também que tenhas um dia fantástico (cof cof será comigo cof cof) e que possamos aproveitar mais anos assim! Fico à espera do que vais dizer deste texto!
P.S.: Se chorares, chamo-te conas! :)
~ Nuno Pinto, Quando o Coração Regenera, 10/08/2017 ~
Tarântula
O quão comum e provável é alguém cair nas vastas teias do amor?
Ah, um jovem adolescente é capaz de sentir as hormonas a correr em flash através do seu cérebro e este começa a provocar contínuas ondas de choque de ocitocina que são descarregadas para o organismo, percorrendo um corpo, tão frágil e ainda em formação, em uma mera questão de segundos. Amar alguém é receber essas descargas hormonais, de forma contínua, até o teu cérebro limitar-se a pensar "oh, foda-se, eu amo-a!". Foi assim que Mike percebeu o porquê da doce Sam lhe provocar reações tão fortes, tanto psicológicas como físicas. Físicas principalmente pois, como adolescente recarregado de hormonas masculinas, a masturbação era um bom controlo desse sistema infame, uma vez que libertava essas hormonas a imaginar Sam nos mais hediondos cenários e fantasias. Sam era uma rapariga bastante normal e estava dentro daquilo que podemos chamar "padrão normal de beleza". Destacava-se a sua pele perfeitamente limpa e sem qualquer traço de maquilhagem, os seus fantásticos olhos verdes brilhantes misturados com uma nuvem de castanho-avelã e uns lábios carnudos e rosados, esses eram extremamente cobiçados pelas outras raparigas, chegando ao ponto de se revelarem invejosas. Porém Sam era passada muitas vezes por estranha porque, diferente do habitual medo natural das raparigas, Sam gostava de insetos. Ela chegava a falar disso com alguns rapazes, Mike estava incluído nesse pequeno grupo. Aranhas eram a grande paixão e excitação de Sam, pequenos insetos de 8 patas capazes de ultrapassar dificuldades e usar a sua micro cognição cerebral para elaborar os mais minuciosos métodos de caça de alimento rumo à sobrevivência. Sam delirava e Mike não achava isso nada estranho, aliás, achava fofo, diferente e até apaixonante! Claro está que o amor que sentia por Sam o levava a desenvolver interesse no mesmo tópico para poder manter uma conversa próxima e complexa sobre a família dos aracnídeos. Sam também era inteligente e notou a mudança, notou o interesse de Mike a ser canalizado na sua direção e gostou, gostou muito! Na realidade Sam tinha uma faceta que ninguém conhecia: o seu sadismo era ocultado a tempo inteiro por um sorriso grande e que abraçava corações, derretia-os e enfeitiçava-os. Mike descobriu isso da pior maneira possível. O interesse de Sam por aranhas cruza com o interesse profissional dos seus pais: eles tinham posse sobre vários zoos do país e era frequente manterem animais selvagens em casa. Eram ricos e tinham fácil possibilidade de alojar os animais que, não só seriam transportados para determinados zoos, mas também seriam contrabandeados. A sua riqueza e poder não vinham somente da honestidade e Sam herdou alguns dos traços maliciosos dos seus progenitores. Não seria a primeira vez que os pais escondiam as atrocidades da jovem Sam. Ela apenas se deliciava com toda aquela situação e os pais alinhavam na brincadeira para provar o orgulho do seu sangue que corria selvagem no corpo da única filha que o casal procriara. Sam já tinha alguém sob olho, alguém fácil capaz de ceder à sua personalidade doce, personalidade esta que forjou para facilitar uma caçada pacífica, onde a preza apenas entrava na boca do predador como um convidado VIP.
Num dia de escola perfeitamente normal, Sam começa a executar a sua caçada já previamente planeada: sabendo da atenção que Mike lhe dedica, era mais que óbvio que os olhos dele pousariam sobre ela como borboletas e ela faria questão de dar a entender a Mike que estava a olhar para ele, bem antes de tentar, falsamente, disfarçar a situação com o desvio da cara para o lado, fingindo timidez feminina. Mike não é tão esperto mas é atento e é impossível não reparar numa situação em que ambos os olhares se cruzam. Nesse momento, o seu cérebro simples de adolescente começou a faiscar a possibilidade de o interesse ser mútuo. Decidiu olhar outra vez e lá estava ela a mirá-lo ao longe, seguido de um desvio de cara engraçado e repentino. "Ela está a olhar para mim!" e foi assim que a mente e coração de Mike foram aguçados pelos seus sentimentos e pelos olhos de Sam, sem saber que o anzol o fisgava. Do outro lado, o sadismo de Sam estava a ser excitado por saber que Mike estava a reagir àquele pequeno gesto que era um simples olhar. Na inquietação do intervalo, Sam decidiu que estava na altura de cravar as garras. Aproximou-se calmamente por entre o amontoado de estudantes que ali se encontrava, com um ligeiro toque feminino, arrumando a franja caída sobre a sobrancelha esquerda, e sorriu na direção de Mike, sabendo que a flecha acertaria diretamente naquele coração ignorante, perdido de amores.
- Mike, estás ocupado hoje de tarde? Como vamos ter aquele teste de biologia para a semana, queres vir estudar a minha casa?
O jovem-vítima nem queria acreditar. Estava confuso, excitado, empolgado e sobretudo apaixonado, era impossível recusar aquele pedido e, honestamente, não devia nem o queria fazer. Mike não conseguiu sequer formular uma única letra, como se a sua língua fosse agora nada mais que simples gelatina. Limitou-se a mover afirmativamente a sua cabeça e tentou controlar o seu estado eufórico.
- A sério? Então vou ter contigo no final da última aula, pode ser? - Sorriu e retirou-se enquanto soava o ensurdecedor toque da campainha de fim de intervalo. O intervalo acabou e todos tiveram de voltar para a sala, às suas mesas um pouco gastas dos vários alunos que por ali passaram ao longo de algumas décadas. A aula começou e no meio daquela turma havia pelo menos dois alunos que, claramente, não se estavam a concentrar na disciplina que estava a ser lecionada. Mike estava tão atordoado e perdido em pensamentos que nem o mais sofisticado GPS podia ajudá-lo naquele momento. Tudo o que lhe passavam naquela mente eram bofetadas de possíveis cenários sobre o seu "encontro" para estudar que a doce Sam lhe propôs. Sam, por outro lado, estava entusiasmada, tão entusiasmada que fez questão de pedir ao professor para ir ao WC apenas para poder dar umas gargalhadas ao espelho.
As aulas passaram em passo tortuoso para ambos mas por fim haviam acabado. Mike tentou arrumar tudo a uma velocidade furiosa e só se atrapalhou pelo meio, fazendo o estojo ainda aberto voar para o seu lado direito e, tendo como consequência, espalhar todo o material escolar nele contido. Aquela ideia sugerida por uma rapariga era tão desarmante que o cérebro de Mike teimava em não cooperar e os músculos pareciam todos disformes e prontos a desobedecer. Sam, que se aproximava, riu-se baixinho ao ver aquela cena. Para ela parecia um bezerro bebé a nascer, lindo, frágil, fraco, impotente e completamente inútil, pronto a ser devorado pelos predadores que o rodeiam e vigiam. Uns minutos depois, Mike já se encontrava pronto para partir lado a lado para uma importante aula de estudo onde não havia mais volta a dar. No parque de estacionamento da escola, a mãe de Sam já se encontrava estacionada à espera, no seu carro de luxo quase-tão-preto-como-a-solidão. Até os vidros eram pretos e era impossível espreitar o conforto do interior, detalhe que Mike só reparou depois de se sentar no banco traseiro, numa posição tímida e aparentemente madura, em sinal de boas maneiras e respeito perante um adulto desconhecido.
- Hoje temos visita, é? - disse a mãe de Sam, frisando o óbvio com um sorriso animado e um tom de voz doce e leve. Ao que a filha sorriu e assentiu com a cabeça. - Então vamos lá, será uma viagem rápida, não se esqueçam dos cintos, meninos! - a mãe de Sam, Rachel, fazia pairar um tom de simpatia natural e muito materno. Sam não tinha muitas parecenças com ela, pelo que Mike ponderou a hipótese de Sam ter puxado os genes do pai. Em cerca de 10 minutos, percorrendo uma rua em linha reta e muito bem pavimentada, abraçada por várias casas e apartamentos amplos e vistosos, finalmente chegam ao destino final.
Uma hora de estudos havia passado como o vento. Ambos pareciam inteiramente dedicados ao estudo, mostrando tantas trocas de ideias, perguntas e respostas complexas entre eles sobre toda aquela matéria tão enfadonha de biologia. Mike aproveitava sempre para contemplar Sam enquanto estava ali, perto e sozinho com ela. Chegava a percorrer os traços físicos de Sam apenas com o olhar, apesar de desejar tracejar aquele corpo com beijos e com as mãos inquietas que agarravam no lápis meio gasto. Sam estava aborrecida e queria sair dali depressa, andava a contar os minutos para chegar ao momento em que iria deixar de ver a cara nojenta de Mike. Por fim, Rachel interrompe o estudo com umas leves batidas na porta e um "Lanche, meninos!" por entre os dentes, quase melódico e forçado, detalhes que passam despercebidos por Mike mas faz Sam revirar os olhos enquanto se levanta para abrir a porta. Uma bandeja com sandes mistas, bolachas de chocolate e chá morno de camomila foi colocado sobre a secretária de Sam e Rachel desapareceu na casa uma vez mais. Enquanto lanchavam, Sam decidiu que seria a melhor altura para começar a "festa surpresa".
- Hey, Mike, tenho de te mostrar uma coisa! Anda lá, acaba de comer. - Estas palavras fizeram Mike abrir os olhos um pouco em excesso e devorar a sande em largas dentadas. A visão era perturbadora aos olhos de Sam mas esta ignorou a cara de nojo que estava prestes a fazer e decidiu levantar-se e seguir para a zona da cave, onde se encontrava a armadilha, o auge da caçada. A cave estava equipada com várias peças que Mike já tinha visto num zoo: aquários, jaulas, luzes térmicas, incubadoras... E tinha animais, montes deles! O que mais se via era insetos e répteis, de todas as cores, tamanhos e aspetos. Era mesmo entusiasmante estar num zoo caseiro, completamente de graça!
- Estás a gostar, Mike? Anda cá ver a minha preferida! - Sam saltitou até uma canto da cave onde estava um mesinha de cabeceira feita de madeira clara e com um aquário grande, banhado por uma luz avermelhada sobre ele. Mike aproximou-se devagar para ver o que se encontrava lá dentro. Continha apenas duas aranhas e eram enormes! Eram maiores que a palma da sua mão, castanhas e peludas! Mike sentiu-se fascinado e aterrorizado ao mesmo tempo com aquelas criaturas exóticas.
- São duas Aranhas-golias-comedoras-de-pássaros, conhecidas por Theraphosa blondi. São da família das tarântulas. O que achas?
- São muito bonitas! E são enormes! Como é possível crescerem tanto?!
- Podem crescer até 30 cm mas estas ainda são novas. Queres pegar na Daisy? - Sam apontou para a aranha de porte mais pequeno mas Mike não parecia nada convencido.
- Anda lá! Elas são muito pacíficas e raramente se sentem ameaçadas. Mesmo assim, elas costumam dar picadas secas onde não é usado nenhum veneno. Não tens que ter medo, Mike, vamos! - Sam parecia impaciente e Mike não queria desapontar Sam. Acenou que sim com a cabeça e sorriu, uma reação que fez Sam querer socá-lo pois detestava a simpatia de estranhos, ainda mais quando vinha das suas vítimas. Com todo o cuidado e experiência pegou na Daisy e deixou-a subir um pouco pelo braço direito. Era possível ver as patas arquear enquanto subia pelo braço de forma lenta e metódica.
- Vês? É simpática!
Mike aproximou-se, finalmente decidido em pegar na Daisy. Nesse momento, Daisy começou a emitir um pequeno zumbido que vinha do seu abdómen, a parte traseira da aranha castanha, deixando Mike novamente hesitante. - Não tenhas medo! Elas fazem isso quando estão felizes! - mentiu Sam. Ela sabia que Daisy se sentia ameaçada. Quanto esta espécie de aranhas se sente ameaçada, ela tende a roçar a zona abdominal contra as patas traseiras, produzindo um zumbido que funciona como aviso da sua hostilidade. Em conjunto com isso, as quelíceras, os "ferrões" da aranha, tendem a ficar mais agitados que o normal em sinal de ataque. Porém Mike não fazia ideia e para ele era fácil não desconfiar de Sam, que tinha tanto a experiência com aranhas como tinha também o seu coração na mão. Sam então recuou e colocou Daisy na bochecha, ocupando metade da sua cara. Mike não queria acreditar no que estava a ver e sentiu-se mesmo entusiasmado por ver aquela cena. Parecia um cenário retirado de um programa de televisão sobre a vida selvagem onde os biólogos fazem todo o tipo de acrobacias com aranhas e outros animais perigosos. Sam reparou naqueles olhos esbugalhados a olhar para ela e Daisy e achou que estava na altura de chegar ao clímax do plano.
- Mike, vou ser sincera contigo. Acho que sinto algo por ti e sei que provavelmente é recíproco. Diz-me que sim, por favor... - Sam já tinha planeado o teatro para si. Estas palavras foram enunciadas dezenas de vezes, deixando Sam sempre inquieta cada vez que as terminava. Era um misto de repugnância e entusiasmo, algo que a deixava sempre nervosa, mesmo sabendo que o efeito seria garantido.
- Eu... - Mike estava novamente perplexo. Queria gritar de felicidade mas tudo o que conseguia fazer era tremer enquanto a cara ficava quente e vermelha. - Eu gosto de ti! - gritou, não controlando os níveis do som emitido. Tal comportamento apenas contribuiu para que sentisse ainda mais vergonha e deixando os nervos arrebentarem a escala.
- Prova-o! Pousa a Daisy na tua cara, Mike. Por mim!
Mike arqueou as sobrancelhas em espanto mas depressa se decidiu. Não podia desperdiçar esta oportunidade que tanto esperou. Inclinou-se com o corpo para a frente e levantou ligeiramente a cabeça para que Sam colocasse Daisy na sua cara, mesmo ela sendo maior que a sua bochecha. Daisy, por sua vez, voltou a emitir o zumbido típico mas Mike não suspeitava o que lhe esperava. Daisy desta vez tornou-se agressiva e com as suas quelíceras com cerca de centímetro e meio, mordeu Mike perto do lábio, causando dores enormes e fazendo este gritar com toda a força dos seus pulmões. A picada foi seca, mas a gritaria agitou Daisy e esta apenas saltou com um medo instintivo animal para dentro da boca de Mike, sendo o pior erro da aranha e o pior destino de Mike. Sam tinha-se afastado e começava a mostrar finalmente o seu ar de delícia ao ver aquela situação toda de um ângulo de espectador na primeira fila. Com Daisy agora na boca de Mike, esta estava atordoada porque o jovem não parara de gritar, levando-a a picar novamente, agora na língua onde se encontrava pousada, com a primeira dose de veneno. Mike estava totalmente desesperado, estava aterrorizado e com dores que mais ninguém senão ele podia imaginar. O cérebro estava agora sem saber como agir, fazendo Mike mover-se sem qualquer livre-arbítrio, apenas seguido pelo seu instinto de sobrevivência. Ele tentou tirar o aracnídeo com a mão, mas não foi a melhor escolha uma vez que Daisy voltou a dar mais uma picada e largando uma nova quantidade de veneno no sistema de Mike. Mike estava no limite e desta vez cerrou os dentes, mordendo com força o corpo da aranha, matando-a e levando uma quarta e última picada venenosa. Mike consegue finalmente cuspir a carcaça da aranha depois daqueles minutos agonizantes repletos de gritos e inquietação. Da boca dele saíram traços de uma Daisy desmembrada e um líquido azul viscoso que correspondia ao comum sangue aracnídeo. O veneno começava a fazer o devido efeito e as papilas gustativas da língua de Mike estavam a absorver aquele veneno como uma esponja, depositando-o rapidamente no organismo, chegando aos pontos mais cruciais do seu corpo ainda jovem e em desenvolvimento. Mike começou a sentir o seu corpo a paralisar, levando-o a cair no chão, deitado de barriga para baixo e com o queixo para cima, podendo ainda observar a cara sádica de Sam, que o olhava à distância sem o ajudar. Ela estava ali, apenas a sorrir, um sorriso ainda maior que o habitual, mostrando os dentes todos perfeitos, como se ela estivesse perante a coisa mais feliz à face da Terra. Agora os nervos de Mike começavam a deteriorizar, dando uma sensação de quase-clímax. Os seus sentidos estavam a começar a desfazer-se, pouco a pouco, e a visão dele começava agora a entrar em conflito. Dentro da boca dele, onde já não sentia dor devido à adrenalina, a língua começava a decomposição, a necrose das células e dos músculos devido aos ferrões venenosos de Daisy. Por fim, o seu cérebro e os circuitos mentais começam a retardar, levando a uma inconsciência da sua morte que estava a meros minutos de distância. Enquanto o último sono o engolia e o corpo entrava em colapso, a mente de Mike terminou as últimas atividades com um pensamento simples: "Finalmente conquistei-te!".
Mike era agora nada mais que um simples cadáver estendido no chão daquela cave, observado por dois olhos verdes brilhantes e maliciosos.
~ Nuno Pinto, Quando o Coração Cria uma História, 14/07/2017 ~
6 Meses de um Futuro a Dois!
Mickäel (Prenda de 2 Meses!)
Quando, numa tempestade, aprendes a dançar na chuva.
O Interminável Som de Arrependimento
Ambiguidade e Volatilidade de um Sentimento Universal
Infantilidade Emocional
Hemostase De Um Passado Mal Absorvido
Uma Mente Exausta é uma Chama Ténue Prestes a Apagar
Boneco Humanóide
Agitação Espectro-Emocional
Como Consegues Dormir à Noite?
O Mundo dá Voltas
De Algum Modo
Agora é a Hora!
Uma semana se passou desde que tudo acabou. Mantive-me oculto, mantive-me firme apesar da falta de disposição, falta de motivação poque afinal de contas, tu és a minha motivação, és a minha força e agora que te perdi, sinto que perdi o que me era mais importante.
As memórias atormentam-me. Qualquer coisa que me lembra de ti: um lugar, uma palavra, um objeto. Seja o que for, tenho sempre uma pequena memória ligada a isso. Essas pequenas coisas que antes me faziam sorrir por estar tão apaixonado por ti, agora deixa-me transtornado, a morrer aos poucos por saber que aquilo que mais amo e desejo não me pertence.
Todas as noites me pergunto: "Onde errei? Não o amei o suficiente? Será que se fizesse ... teria sido melhor?". Não! Não é culpa minha. Nem tua. Nem de ninguém. As coisas acontecem, ponto final. Mas a verdade é que, mesmo antes começar o namoro, eu já tinha medo de te perder, medo que alguém me roubasse de ti. Pelos vistos, os meus medos sempre se tornam reais. E aqui estou eu, sem ti, a desejar voltar no tempo para o dia em que te beijei pela primeira vez, para o dia em que o meu coração simplesmente disparou quando me tocaste os lábios com os teus. Aqui estou eu a escrever uma barbaridade destas enquanto choro o suficiente para encher um oceano, tudo porque tu me afetas, tudo porque eu te amo.
Quantas vezes abdiquei de coisas por ti, quantas vezes quis ser mais egoísta e pedir-te algo complicado, quantas vezes deixei de dizer alguma coisa porque sei que te ia magoar, chatear ou incomodar. Eu dei-te tudo de mim, ainda que não retribuísses da mesma forma (e não tinhas, nunca te pedi nada). Mas estavas aqui, estavas comigo e podia-te chamar de meu. Ah, tu davas-me tudo só com o teu sorriso, com os teus lábios, com as carícias. Tu davas-me o mundo e eu ficava tão satisfeito. Perdia-me no teu cheiro, navegava nas tuas palavras, sorria quando tu sorrias e fui tão feliz. Tu, acima de qualquer coisa, fazias-me bem, fazias-me querer viver, fazias-me querer ser sempre mais, sempre melhor, para poder sempre compensar as minhas falhas.
No outro dia, estive a ler mensagens que trocamos, por volta de Agosto. As promessas que pareciam eternas e na verdade foram em vão, os "amo-te"s que me mandaste que agora parecem tão distantes e frios, as longas declarações a meio da noite ou da manhã (aquelas que me faziam acreditar que o mundo era perfeito ao teu lado) que agora parecem uma manada de palavras gordas e bonitas retiradas de um livro de romance. Nesse dia, as memórias eram facas de açougue e não memórias. Senti todo o meu Eu ser cortado em vários partes e preenchido com emoções negativas: saudade, tristeza, desgosto, dor. Fiquei num estado de quase-morte emocional, desgastado, fraco, abatido e indesejado. Fechei os olhos e apenas pensei "Mas apesar de tudo, eu ainda o amo.".
E mais uma vez me pergunto, agora, enquanto escrevo: "Amaste-me tão intensamente quanto eu ainda te amo? Será que ainda pensas em mim e naquilo que fomos? Será que algures em ti ainda deseja estar próximo de mim? Ou será que eu fui apenas uma boa experiência?". Eu quero acreditar que fui alguém te conquistou, que te deu todo o amor que te deixava realizado. Quero mesmo acreditar, porque se assim for, fico eternamente satisfeito por ser útil pelo menos a uma pessoa, aquela que eu mais amo neste momento.
Agora quase nem falo contigo, não sei como estás, não sei o impacto que isto tudo teve em ti mas acredito que a outra pessoa por quem te apaixonaste te deve estar a fazer feliz ou pelo menos, é o que assim parece. Não sei se o sentimento é recíproco, mas espero que seja porque amar aguém que não te ama é realmente uma dor que não desejo a ninguém.
Por favor, se, de alguma forma estiveres a ler isto, fala comigo. Eu preciso de ti, preciso mesmo! Mesmo que não me voltes a dizer "eu amo-te", por favor, pelo menos fica por perto para me dar força porque tu és a chama que alimenta o meu coração apagado.
Espero que num futuro próximo possamos reconstruir alguma coisa.
Terás sempre um lugar guardado no meu coração.
Obrigado por tudo!
Amo-te. (14)
~ Nuno Pinto, Quando o Coração se Parte, 16/11/2015 ~